Se pensarmos bem, todas as coisas têm a sua história. E hoje veio-me à ideia a História das Alminhas de Lamarigo, que conheço bem, há perto de sessenta anos.
Era eu criança e passei muitas vezes à beira das suas pedras, que estavam caídas no início do caminho que liga o lugar de Lamarigo ao lugar de Requião. Ouvia dizer às pessoas que lá passavam: estas pedras eram dumas alminhas que aqui existiram, mas já lá vão muitos anos que estão no chão.
Um dia, teria eu dez anos, juntamente com mais dois colegas, resolvemos levantar uma pedra e lá vimos a data da sua construção – 1766.
Agora sei que o que vos vou contar, muita gente não vai acreditar, mas posso-vos dizer que isto foi a realidade. Minha mãe, hoje com noventa anos, ainda afirma que viu muitas vezes da janela da nossa casa, onde se viam essas pedras no chão, de lá sair, quase todas as noites, uma luz muito fraca.
Vinha até à fonte de Lamarigo, cerca de 60 m e depois voltava a aparecer de novo, próximo das pedras, tomando a fazer o mesmo percurso. Isto acontecia vezes sem conta. Mas não era só a minha mãe que via isto, eram várias pessoas, algumas delas ainda hoje vivas.
Eram os tais tempos difíceis, em que não havia dinheiro para nada. Mas, o meu tio paterno, hoje com 81 anos, Abílio Dantas Barreiro, “Abílio do Lavrador”, meteu mãos à massa e com a ajuda de algumas pessoas que deram os seus donativos, mandou-as reconstruir em 1958.
A partir dessa data, por incrível que pareça, a luzinha, como a gente aqui lhe chamava, nunca mais se tomou a ver. A nossa gente começou a ter uma grande devoção com estas alminhas e realmente tem razão para isso, que elas são milagrosas não há dúvida; eu que o diga!
Mas agora, não vai muito tempo, o dito caminho foi alargado e o muro onde elas estavam colocadas teve de ser demolido, incluindo as alminhas, claro. Depois de novo muro estar feito, voltaram a ser reconstruídas, mas desta vez... cuidado!
A nossa Junta meteu mãos à massa e pôs lá esta coisa linda, que se pode ver [...]. Passe por lá, veja se não parece um altar em pedra. Faça-lhes uma prece e depois poderá dizer qualquer coisa.
Deixo aqui um bem-haja muito grande ao meu tio “Abílio do Lavrador”, porque sei o que lhe custou mandar pôr em pé todas aquelas pedras, algumas delas em mau estado, e como ele há tantos anos as tem tido a seu cargo, considerando como uma das melhores coisas que tem feito na sua vida.
Deixo também aqui um muito obrigado à Junta de Freguesia, em especial ao Presidente, Amâncio Barbosa, que teve de ir muitas vezes à Câmara para arranjar o dinheiro, para que esta obra ficasse tão bonita.
Bem-haja a todos.
Padornelo, Setembro de 2007
Ilídio da Silva Dantas Gomes