ALMADARIA – Topónimo sumido há muitos séculos, certamente, sem qualquer persistência na memória oral. Está citado nas Inquirições realizadas por ordem régia em 1258, quando se descreve a alçada realizada em Padornelo: «do Casal da almadaria, IIIJ soldos et meala»[1]. Portanto, o Rei Dom Afonso III auferia quatro soldos e meio de prata sobre o rendimento produzido no Casal da Almadaria.
Topónimo extremamente raro, de tal maneira que não se encontra rasto em qualquer enciclopédia ou tratado, e, pela presença do artigo al-, deve ter origem arábica.
Não faça dúvida a sobrevivência de topónimos minhotos com raiz sarracena, em meu socorro trago tão-somente alguns exemplos. Abadim, lugar das freguesias de Caminha e Cabeceira de Bastos, é um nome verbal do árabe abada, que significa «adorar, dar culto», latinizado como abbatinu-.
Outros haveria a listar como Alfela (Braga) Bade (Valença) e Badim (Monção)[2], para além duma plêiade de lugarejos em Ponte de Lima (Albotim, Alcouce, Almécega, Almeidas, Almoface, Almuinha, Alqueire, Alqueivada, Andame, Arrabalde, Arrifana, Atalaia, etc.)[3].
O topónimo deve indicar, não uma antiquíssima mina, já atulhada e perdida, mas recursos associados a minério ou trabalhos de ferro, devido à presença da raiz al-ma’aden, que no arcaico árabe hispânico alma’dán significava «a mina, o mineral, o metal»[4], presente igualmente nos geónimos Almada, Almadanim (Portimão), Almadeina (Vila do Bispo) e Almadén[5] (Ciudad Real, Espanha).
Recordemos que o substantivo e topónimo Ferreira vem do latim ferraria e significa, precisamente, «mina de ferro». Daí formou-se em português escorreito, também, Ferraria por junção do sufixo –aria, elemento de ligação que exprime a noção de lugar, ofício e objecto, para expressar a ideia de «oficina, fábrica de peças de ferro ou de outros metais; local onde se fabricam ferragens»[6].
De qualquer forma já não há em Padornelo a mais pequena reminiscência deste arqueotopónimo, desaparecido na voragem do tempo.
[1] Portugaliae Monumenta Historica a Saeculo VIII, 2 volumes, Academia das Ciências de Lisboa.
[2] Frei João de Sousa, Vestígios da Língua Arábica em Portugal, Lisboa, 1789, pp. 31, 72 e 73.
[3] Armando de Almeida Fernandes, Toponímia de Ponte de Lima – Estudo Toponímico, II vol., Ponte de Lima, 2001.
[4] José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, I vol., Lisboa, 1984, pp. 101-102.
[5] Para além de topónimo, o vocábulo castelhano “almadén” é igualmente um substantivo com origem árabe e significado de «mina o minero de algún metal», conforme nos garante o Diccionario de La Lengua Espanola, 22.ª edição da Real Academia Espanola, Madrid, 2001.
[6] Academia das Ciências de Lisboa, Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, I vol., Editorial Verbo, Lisboa, 2001, p. 1728.