ANGÚSTIAS – Hagiotopónimo e devocional. Embora pertença nitidamente ao grupo dos topónimos que têm origem nos nomes dos santos, deve-se neste particular à mais profunda devoção do filantropo José Narciso Monteiro, o qual em 1912 mandou erigir a Capela de Nossa Senhora das Angústias, de quem era particular devoto. Devido ao seu perfil humanista e de grande benemerência bem cedo a festividade e a importância da Sr.ª das Angústias conheceu expressiva expansão.
Interessante fenómeno devocionário que levou no estrito campo toponímico, ao crescimento do mesmo como referência basilar, a ponto de alguns decénios depois, muitos dos lugares perderam a sua primeva denominação de modo progressivo mas contudo espontâneo, para adoptarem a ascendente denominação de Angústias. Devido a esse fenómeno toponímico, os lugares das Portelas e do Curro perderam em definitivo a sua identidade própria e pertencem hoje, também, ao lugar das Angústias.
Antes da actual capela, e sem qualquer conexão com a presente, existiu em local diverso da mesma freguesia outra ermida a qual era anexa à “Casa de Senrelas”, da família Pereira Varajão, devastada que foi por um incêndio na primeira metade do século XIX.
José Narciso Monteiro era, como já se disse e facilmente se depreende, um grande devoto à Nossa Senhora das Angústias, pois comprara a sacrossanta imagem, ali ao redor do ano de 1881, que miraculosamente se salvara do pavoroso incêndio que devastou a capela dessa evocação, anexa à casa solarenga da nobre família Varajão.
Quando regressou ao Brasil levou consigo a imagem da santa, sua devota companhia naquela imensa labuta pela vida e por terras de Vera Cruz fez a promessa solene de mandar erigir uma ermida ou capelinha devocionária na sua santa terrinha, o seu coração bondoso e compassivo assim o exigia.
Retornou definitivamente ao torrão natal em 1903 e, alguns anos volvidos, tratou de dar corpo à promessa que fizera. Em 1906 comprou um amplo terreno para esse fim e a 31 de Janeiro de 1907 entregou nos serviços competentes da Câmara Municipal de Paredes de Coura o pedido regulamentar para edificar a Capela de Nossa Senhora das Angústias.
Por motivos de força maior retira a petição de edificação da capela evocativa, solicitando a 23 de Janeiro de 1908 «para ficar nulo e sem efeito o pedido» que anteriormente fizera. Mas não esmorece, nem tão-pouco desiste, pois era homem sóbrio de génio e altruísta, retoma o projecto, agora mais consubstanciado e renova o pedido de autorização para edificar a Capela de Nossa Senhora das Angústias «num terreno improdutivo, que fica à margem esquerda da estrada que segue para Insalde, entre a estrada e a levada da Chã da Várzea, em Padornelo», por petição datada de 20 de Abril de 1911.
A 11 de Maio de 1911 reuniu-se a vereação da Câmara Municipal de Paredes de Coura, sob a presidência do presidente interino José do Espírito Santo da Cunha e com as presenças dos vereadores João Bento de Araújo Guimarães, Manuel António Barreiros de Sá, Alberto Rodrigues de Sá e Augusto Rodrigues Nogueira, para aprovar por unanimidade e autorizar a construção da capela na carvalheira das Angústias.
Oficialmente inaugurada a 7 de Julho de 1912, dia memorável, seria especialmente benzida por D. Manuel Vieira de Matos, arcebispo primaz de Braga, bondoso, sorri e corteja a multidão, ao abençoar a capela na companhia do padre dr. Manuel Joaquim da Cunha Ribas, reverendo prof. dr. Manuel de Azevedo de Araújo e Gama, cónego dr. Bernardo José Álvares Chouzal e abade Casimiro Rodrigues de Sá, durante uma visita efectuada a 3 de Julho de 1916, num ambiente comovente da mais aberta lhaneza e despretensiosa cordialidade, em companhia do fundador José Narciso Monteiro, herdeiro de nobilíssimos títulos do coração, pois soube aproveitar os bens avultados de fortuna que possuía em actos de filantropia e amor ao próximo.
O topónimo é mais vulgar no plural, ao invés do singular angústia. Do latim angustĭa, «aflição, embaraço».