Há décadas a perder de vista que o pão de Padornelo ganhou fama e proveito sem paralelo. “Da farinha boa que peneirávamos, fazíamos a padeça, que vendíamos aos ricos”, relembra Gracinda Cunha, da Valinha, que aos 87 anos é a sobrevivente da família que tem o segredo do especial sabor e textura deste tipo de pão absolutamente único.
“É na fermentação que está o segredo”, explica a descendente da conhecida família “Ruço” de Padornelo. “Ensinei a muitos mas ninguém faz como nós fazíamos, eu e a minha irmã mais velha, que já faleceu, a Maria. Na nossa casa já se fazia a padeça há mais de cem anos”.
“Naqueles tempos difíceis, nós matávamos a fome a comer o pão dos restos da farinha, a sêmea, e guardávamos a padeça para vender”, recorda Gracinda do “Ruço”, mulher que Padornelo coroou no reino da padeça e a quem a freguesia enaltece igualmente os méritos de parteira. “Nas minhas mãos nasceram gerações e gerações de bebés. Quantos? Perdi-lhes a conta, talvez centenas”.
Gracinda teve a alegria de saber que, uma vez mais, a Feira Mostra de Paredes de Coura elogiou e fez esgotar a padeça de Padornelo. O famoso pão foi o produto mais procurado no stande da Associação Cultural de Padornelo, que contou com mais de uma vintena de pessoas a servir o exigente público durante os três dias do certame.
Não houve mãos a medir para que nada faltasse aos clientes, com os enchidos de Padornelo a serem dos “mais procurados”, garante um dirigente da Associação. Apesar da tradicional “chicolateira” que esteve sempre a ferver a pronta a servir o café que tanto os courenses apreciam, o que é facto é que, nisto de líquidos, o vinho é que lidera as tradições: “Vendemos mais de 100 litros”, reconhece o mesmo dirigente.
Gorete Rodrigues
Notícia do jornal NOTÍCIAS DE COURA, edição n.º 186, de 21 de Junho de 2011, p. 7.