Março, terceiro mês, recheado em acontecimentos importantes. Neste mês nasceram o Infante Dom Henrique, “o Navegador” (4 de Março de 1394), o pintor Domingos Sequeira (10 de Março de 1768), o escritor Camilo Castelo Branco (16 de Março de 1825), o historiador Alexandre Herculano (28 de Março de 1810).
Mas também faleceram algumas das mais ilustres figuras, como o poeta Pedro Homem de Melo (5 de Março de 1984), a pintora Helena Vieira da Silva (6 de Março de 1992), o rei D. João VI, monarca do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (10 de Março de 1826), a poetisa Natália Correia (16 de Março de 1993).
Convém assinalar mais alguns eventos políticos de grande importância que tiveram este mês como palco privilegiado. A 6 de Março de 1921 foi oficialmente fundado o Partido Comunista Português, sucessor da Federação Maximalista Portuguesa; em Março de 1962 as academias de Lisboa e Coimbra fizeram a famosa greve estudantil, que abalou os alicerces do regime salazarista; o Golpe das Caldas da Rainha, a 16 de Março de 1974, foi o pronuncio do 25 de Abril; a 11 de Março de 1975 ocorreu a tentativa de golpe de Estado por oficiais afectos ao general António de Spínola.
Na comunicação social, assinalámos três factos de grande notabilidade: a 1 de Março de 1925 iniciaram-se as primeiras emissões regulares de rádio difusão em Portugal; a 17 de Março de 1980 iniciam-se as emissões regulares da televisão a cores em Portugal; e a 24 de Março de 1989 foram concedidos os alvarás de liberalização das rádios locais.
Portugal pediu oficialmente a adesão à Comunidade Económica Europeia a 28 de Março de 1977, a 30 de Março de 1992 foram incorporadas no Exército Português as primeiras mulheres, e a 21 de Março de 1993 foi inaugurado com luxo asiático a Centro Cultural de Belém.
“Os Lusíadas” foram publicados pela primeira vez a 12 de Março de 1572, e a 8 de Março comemoramos um dos dias mais bonitos, dedicado a gente bonita, o Dia Internacional da Mulher. Mas o facto mais importante associado a este mês, transcendente até, ocorreu a 15 de Março de 1751, quando o rei D. José, magnânimo na sua majestática bondade, assinou o decreto real que tornava proibido e de nulo efeito o acto medieval de colocar cornos pendurados nas portas das casas dos maridos enganados..., atitude deveras higiénica, para combater a moral rústica dos inimigos do adultério. Cousa singular em costumes bárbaros!
Os campos já rebrilham (antigamente) de actividades, lavram-se as terras para a semeadura de milho e trigo, e nos climas favoráveis plantam-se o milho de sequeiro e batatas, ao mesmo tempo em que se limpam as terras cobertas de ervas daninhas invernosas, retoca-se a enxertia nos pomares.
Ao lado, o povo faz a “cava”, a amanha manual do solo, por força de braços e enxadas, para a mobilização e arejamentos dos terrenos, enquanto nas adegas se engarrafa os vinhos, após a retirado do cheiro de mofo do vasilhame, e nas hortas o plantio das hortaliças é incrementado. O mês é propício e até as galináceas colaboram com o aumento da postura de ovos, à porta dum tempo mais primaveril.
Falta apurar a origem da denominação para este mês, longo como um pedregoso caminho. O agora terceiro mês do ano, já teve honras merecidas de primeiro no antigo calendário romano, e é consagrado a Marte, deus da guerra na mitologia romana, do latim Martius.
Os romanos, que eram dados a estas coisas, ergueram-lhe estátuas divinatórias, onde o apresentam como um homem hercúleo coberto por uma pele de loba, alusiva à terna loba que cerceou a fome e alimentou os fundadores de Roma, os lendários Rómulo e Remo, claro, inaudita proeza no prodigioso tempo em que as lobas eram dadas as estas carícias úberes e alimentícias.
A esta divindade estavam associadas simbolicamente a cabra, a ave picanço e a árvore nogueira, na medida em que Marte também era o deus da fertilidade do gado, dos campos e da vegetação, flama sagrada que centuplica a vida, profusa dádiva da natureza.
Etimologicamente a designação deste nome, Março, parece ter origem em maris, com o sentido de «macho, do sexo masculino». Do deus Marte derivaram outros vocábulos, como marcial (belicoso), e marciano (relativo ao planeta Marte), e os antropónimos Marçal, Marcial, Marciana, e talvez também Marcelo, cuja etimologia é duvidosa.
Portanto, o deus Marte, poderoso certamente, influenciou de tal modo a humanidade, a ponto de quase todas as línguas usaram-no para denominar este mês. Assim temos Marzo em galego, castelhano e italiano, Març em catalão, Mars em francês, Martzu no dialecto da Sardenha, Marzu no dialecto da Sicília, Martie na Roménia, todas línguas novilatinas.
Mas o fenómeno repete-se por toda a Europa: Marts na Dinamarca, Mars em sueco e norueguês, Marz no alemão, March em inglês, Maart no holandês, e também no País Basco, Martxo. A matriz marciana prolonga-se por esse mundo fora, com Mart no turco, Maret no bahasa indonésio, e um infindável carrear de exemplos que a paciência do leitor dispensa.
Estão ali a acenar para cortar os voadouros, e convém passar aos provérbios antes que esfuzilem relâmpagos e coriscos.
A geada de Março tira o pão do baraço e a de Abril nem ao baraço o deixa ir.
Água de Março é pior que nódoa no fato.
Aí vem o meu irmão Março, que fará o que eu não faço.
Antes a estopa de Abril, que o linho de Março.
Bodas em Março é ser madraço.
Cavas em Março e arrenda pelo S. João, todos o sabem e poucos o dão.
Dia de Março, dia de três ventos.
Em Março aquece cada dia um pedaço.
Em Março cresce cada dia um pedaço.
Em Março deita-te um pedaço.
Em Março espetam-se as rocas e sacham-se as hortas.
Em Março merenda o pedaço; em Abril merenda o merendil.
Em Março merendica e folgaço.
Em Março nem migas, nem couves, nem esparto.
Em Março nem rabo-de-gato molhado.
Em Março o pão com o mato, a noite com o dia e o Pedro com a Maria.
Em Março onde quero eu passo.
Em Março ouga a erva com o sargaço.
Em Março queima a velha o maço.
Em Março tanto durmo como faço.
Em Março, as noites com os dias e os centeios com os matos.
Em Março, de manhã pinga a telha e à tarde sai a abelha.
Em tardes de Março recolhe teu gado.
Em vinte e cinco de Março, se o cuco não se ouvir, ou é morto ou não quer vir.
Entre Março e Abril o cuco há-de vir.
Entre Março e Abril se o cuco não vier, está o fim do mundo para vir.
Enxame de Abril vem para o covil e o de Março para o regaço.
Enxame de Março apanha-o no regaço, o de Abril não o deixes ir, o de Maio deixai-o fugir.
Fiandeira não ficaste, porque em Março não fiaste.
Inverno de Março e seca de Abril, deixam o lavrador a pedir.
Janeiro geoso, Fevereiro nevoso, Março mulinhoso, Abril chuvoso e Maio ventoso, fazem o ano formoso.
Março aguaço.
Março amoroso, Abril ventoso, Maio remeloso, fazem o ano formoso.
Março baço, a noite com o dia, o pão com folgaço.
Março chove cada dia um pedaço.
Março chuvoso, S. João farinhoso.
Março de ano bissexto, muita fome e muito mortaço.
Março liga a noite com o dia, o Manel com a Maria, o pão com o pato e a erva com o baraço.
Março marçagão, cura meadas, esteiras não.
Março marçagão, de manhã cara de anjo, à noite cara de ladrão.
Março marçagão, de manhã cara de rainha, de tarde corta com a foucinha.
Março marçagão, de manhã focinho de cão, ao meio-dia de rainha e à noite de fuinha.
Março marçagão, manhãs de Inverno, tardes de Verão.
Março marcegão, pela manhã rosto de cão, e à tarde de bom Verão.
Março marceja, pela manhã chove e à tarde colmeja.
Março molha o rabo ao gato, se Fevereiro ficar farto.
Março molinhoso, S. João farinhoso.
Março o cria, Março o fia.
Março pardo, antes enxuto que molhado.
Março queima a dama no paço.
Março ventoso e Abril chuvoso, do bom colmear farão astroso.
Março ventoso, Abril chuvoso.
Março virado de rabo, é pior que o Diabo.
Março zangado é pior que o Diabo.
Nasce a erva em Março, ainda que lhe dêem com um maço.
O grão em Março, nem na terra, nem no saco.
Páscoa em Março, ou fome ou mortaço.
Poda em Março, vindima no regaço.
Quando em Março arrulha a perdiz, ano feliz.
Quando vem Março ventoso, Abril sai chuvoso.
Quem em Março açoreou, tarde acordou, mas quem a sua maçaroca ficou, com ela se achou.
Quem em Março não merenda, aos mortos se encomenda.
Quem em Março relva, não tem pão nem erva.
Quem não poda até Março, vindima no regaço.
Se queres bom cabaço, semeia em Março.
Se trovejar em Março, semeia altos e baixos.
Sol de Março, queima a dama no paço.
Vento de Março e chuva de Abril, fazem o vinho florir.
Vento de Março, chuva de Abril, fazem o Maio florir e sorrir.
Vinho de Março, nem vai ao regaço.