RIFONEIRO DE COURA: a Sabedoria Popular
Os ditos e os provérbios fazem parte integrante da cultura popular e duma velhíssima tradição oral de transmissão de conhecimentos, duma riqueza etnográfica.
De qualquer maneira, os ditos populares, são, essencialmente uma ponte com o nosso passado, agora que o presente e a modernidade estão voltados para outros domínios.
Muitos desses ditos e provérbios têm um carácter simbólico, embora a maioria carregue em si, a substância dum simbolismo que não se perdeu no seu todo.
Nos tempos idos em que não havia luz, nem televisão, escola ou cultura erudita acessível para todos, o povo, na sua sapiência milenar, tinha um ditado para tudo, ou a propósito de qualquer coisa, na medida em tal processo fazia parte da sua alma, que traduziam vivências e conhecimentos, atitudes sociais que eram transmitidos de geração em geração.
E essa tradição era tanto ou mais enraizada, que ainda hoje, milhares de provérbios sobreviveram, alguns já falhos de conteúdo, mas mesmo assim repetidos com frequência inaudita.
Esses adágios abarcam todas áreas do conhecimento e da existência humana, e por isso, vão ser apresentados divididos por temas, e como estamos em Março, obviamente, a primeira série dirá respeito aos ditos acerca deste mês.
MARÇO
A geada de Março tira o pão do baraço e a de Abril nem ao baraço o deixa ir.
Aí vem meu irmão Março, que fará o que eu não faço.
Bodas em Março é ser madraço.
Cavas em Março e arrenda pelo S. João, todos o sabem e poucos o dão.
Em Março, as noites com os dias e os centeios com os matos.
Em Março chove cada dia um pedaço.
Em Março deita-te um pedaço.
Em Março espetam-se as rocas e sacham-se as hortas.
Em Março merenda o pedaço; em Abril merenda o merendil.
Em Março merendica e folgaço.
Em Março o pão com o mato, a noite com o dia e o Pedro com a Maria.
Em Março onde quer eu passo.
Em Março queima a velha com o maço.
Em Março tanto durmo como faço.
Em tardes de Março recolhe o teu gado.
Em vinte cinco de Março, se o cuco não se ouvir, ou é morto ou não quer vir.
Entre Março e Abril o cuco há-de ouvir.
Entre Março e Abril se o cuco não vier, está o fim do mundo para vir.
Enxame de Março apanha-o no regaço, o de Abril não o deixes ir, o de Maio deixai-o.
Inverno de Março e seca de Abril deixam o lavrador a pedir.
Março, aguaço.
Março amoroso, Abril ventoso, Maio remeloso, fazem o ano formoso.
Março, baço a noite com o dia, o pão com o sargaço.
Março, chove cada dia seu pedaço.
Março, chuvoso, S. João farinhoso.
Março de ano bissexto, muita fome e muito mortaço.
Março liga a noite com o dia, o Manel com a Maria, o pão com o pato e a erva com sargaço.
Março marçagão cura meadas, esteiras não.
Março marçagão, de manhã cara de anjo, à noite cara de ladrão.
Março marçagão, de manhã cara de rainha, de tarde corta com a foucinha.
Março marçagão, manhãs de Inverno, tardes de Verão.
Março marçagão, de manhã focinho de cão, ao meio-dia de rainha e à noite de fuinha.
Março marceja, pela manhã chove e à tarde colmeja.
Março molha o rabo ao gato, se Fevereiro ficar farto.
Março molinhoso, S. João farinhoso.
Março o cria, Março o fia.
Março pardo, antes enxuto que molhado.
Março queima a dama no paço.
Março ventoso, Abril chuvoso.
Março virado de rabo é pior que o Diabo.
Nasce a erva em Março, ainda que lhe dêem com um maço.
O grão em Março, nem na terra nem no saco.
Páscoa em Março, ou fome ou mortaço.
Poda em Março, vindima no regaço.
Quando em Março arrulha a perdiz, ano feliz.
Quando vem Março ventoso, Abril sai chuvoso.
Quem em Março açoreou, tarde acordou, mas quem a sua maçaroca fiou, com ela se achou.
Quem em Março não merenda, aos mortos se encomenda.
Quem não poda até Março, vindima no regaço.
Se queres bom cabaço, semeia em Março.
Se trovejar em Março semeia altos e baixos.
Sol de Março queima a dama no Paço.
Vento de Março, chuva de Abril, fazem o Maio florir.
Vento de Março e chuva de Abril fazem o vinho florir.
Vinho de Março, nem vai ao regaço