A Minha Santa Mãe
Na madrugada de 25 de Julho de 2006 exalou o seu último suspiro uma santa mulher, mãe e esposa, modelo exemplar de todas as virtudes terrenas impolutas. Embora recaia sobre mim a suspeita de parcialidade nestas afirmações, evoco em meu socorro o testemunho de todos aqueles que a conheceram e acompanharam ao longo da sua dolorosa existência.
Ninguém, nunca em tempo e situação alguma lhe conheceu uma palavra maldosa, um sentimento mesquinho, um desejo nefasto, uma intriga contra terceiros, ou a mais pequena e malévola intenção de ferir ou menosprezar alguém. Nunca, em qualquer circunstância, disse mal de quem quer que seja, jamais manifestou sentimentos de pequenez mental que nos caracterizam, sendo sempre duma elementar simplicidade, a simplicidade dos justos e dos bons.
O seu coração, sempre doente, era grande na bondade, duma incomensurável e sentida brandura, sem fazer alarde dessa distinção que a Providência lhe prodigalizara. O fumo das vaidades humanas e os defeitos da natureza terrena nunca lhe limitaram a limpidez do seu excelso carácter e, nela, tudo era a mais fina sensibilidade, sempre tão delicada na sobreexcelência das virtudes.
Nada, nem os paliativos da medicina, te atenuaram os sofrimentos, que foram tantos, que foram imensos. A tua cruz, o teu calvário sobre-humano, não conheceu limites, nem pausas ou descanso. Foram 21 anos, desde aquele distante e nefasto ano de 1985, de operações constantes, de sucessivas doenças, e cada maleita era sempre pior que a anterior, a destruir-te mais ainda, esse já dilacerado corpo. Atroz sofrimento.
Ficaste sem andar, sem te puderes mexer, tudo te sucedeu nesse pequeno e martirizado corpo. O teu penar, o teu supremo calvário, não conheceu limites, nem abrandou um pouco para te dar o merecido descanso, num constante e permanente ascendente de desgraças, sempre num crescendo horrendo de internamentos, cirurgias incontáveis, com diagnósticos sofisticados, que aniquilaram a tua condição física, mas nunca a tua férrea vontade.
Sofreu duramente todas as penas possíveis e imaginárias, mas nunca cedeu ou desesperou. O seu limite, nunca excedido, foi e é ainda hoje para mim, uma absoluta surpresa. A tua fisionomia bondosíssima e tranquila, nunca mostrou um traço de perturbação, amargura ou desespero, a tua superior candura jamais conheceu momentos de desânimo.
Como foi possível tanto sofrimento, sem qualquer palavra de desalento, um aceno de impaciência, uma contracção de enfado, sem uma lágrima no plácido rosto? Sofreste estoicamente, sem qualquer gesto de revolta ou desespero, com uma resignação absoluta, como se cumprisses algum obscuro e impenetrável objectivo oculto da Providência.
Consumaste com a máxima dignidade a tua função de viver a vida que te foi dada, e enquanto força e saúde teve, a sua sublime missão de mulher, de mãe e de esposa. Por isso na hora fatal do teu desenlace não tive as interrogações e dúvidas que nos assaltam e dilaceram os pobres humanos. Porquê, tu? Nem mesmo, porquê, com tanta dor?
Seja como for, mesmo com tamanha resignação foi crudelíssimo o teu sofrer, a tua desventura. Tudo, mas mesmo tudo, tu suportaste, sem gritos pungentes duma alma dorida, para além do limite da paciência e resistência humana, como quem nada receia.
Se existe Céu, para além de qualquer dúvida semântica, adquiriste nele e por direito próprio o teu lugar, e aí, onde sei que estarás no remanso duma merecida paz celestial, peço-te que veles por nós, meu anjo da guarda, assim como tenho a certeza de que nunca de esqueceremos.
Para que conste, Silvina de Jesus Barbosa de Lima, nasceste na freguesia de Padornelo a 22 de Setembro de 1928, e quando passaste os umbrais da eternidade, ficaram na maior dor o teu marido Ilídio Monteiro Alves, e os filhos António Inocêncio de Lima Alves, Norberto de Lima Alves, Jofre de Lima Monteiro Alves e Jorge de Lima Alves, e demais família.
Na impossibilidade de agradecer a quantos manifestaram as sentidas condolências, aqui fica o meu bem-haja.