Por: Jofre de Lima Monteiro Alves
Com a recente inauguração do edifício da Escola do 1.º Ciclo de Paredes de Coura e o consequente encerramento das antigas escolas primárias espalhadas pelas freguesias, o município ficou detentor dum património para o qual se perspectivam diversas alternativas de utilização, todas elas certamente interessantes.
Umas das soluções para a ocupação desse espaço seria a instalação dum museu escolar e da educação, e para o qual e devido à sua situação geográfica de proximidade com a sede de concelho, o sítio ideal seria na antiga escola dos Tojais, lugar da freguesia de Padornelo. Ou em outra freguesia rural, como medida descentralizadora.
Esse museu serviria para a recolha, conservação e museolização de todo o acervo patrimonial dos séculos XIX e XX. E teríamos tanto, tanto para expor. A quantidade e qualidade de material a tratar e exibir seria de uma suprema mais valia para o concelho. As cantigas infantis, lengalengas, os livros e materiais didácticos da nossa infância e dos nossos filhos, pais e avós, as carteiras e cadeiras por onde passaram sucessivas gerações, as ardósias e até as famigeradas palmatórias.
Os cadernos de apontamentos de alguns alunos, as sacolas de serapilheira e pastas para transportar os livros, as lancheiras de lata onde era colocada a merenda, antes desta se passar a chamar lanche. Enfim todo uma série infindável de documentos e de património que sendo de todos nós, são na realidade pedaços da nossa infância e juventude.
Para este interessante espaço museológico seria carreado todo o material legislativo dos séculos XIX e XX, livros de matrículas de alunos do concelho, programas do magistério primário. Todos os documentos e materiais passíveis de interessar a uma iniciativa desta natureza, seriam recuperados e conservados para memória futura.
O museu em si conteria núcleos da escola pública da 1.ª Republica, do Estado Novo, e depois do 25 de Abril, ilustrados com fotografias e biografias de pedagogos courenses ou que trabalharam entre nós. Teríamos, assim, pelos menos três núcleos de natureza diversa, a retratar cada época.
Nesses núcleos – por exemplo o do Estado Novo –, uma sala de aulas seria reproduzida na integra, e recheada com a secretária da professora, as carteiras e cadeiras dos alunos, o quadro negro e os paus de giz, o ponteiro, os manuais, as réguas de madeira, as ardósias, as palmatórias ao lado da longa cana, as famosas “orelhas de burro” usadas para enfeitar a cabeças dos premiados pelo azedume do professor ou dos pouco bafejados.
Os castigos e maltratos a que as crianças estavam sujeitas, faziam parte do conceito de escola e educação de então. E ainda as canetas de aparo, os tinteiros, as paredes repletas de mapas geográficos, e toda a simbologia que então enquadrava a escola, tais como a bandeira, o crucifixo, os retratos, embora estas coisas me tragam algum arrepio, como elementos figurativos da História e da época seriam imprescindíveis.
Para complementar, o museu seria enriquecido com um espaço lúdico com brinquedos da época, pois brincar também é aprender. Um espaço misto com cafetaria e livraria para venda de material diverso, e outro espaço destinado a exposições temporárias. E a ligação à escola e à comunidade com uma série de actividades programadas.
Sem sombra de dúvida, um factor importante para a promoção e desenvolvimento do espaço rural. Para além disso seria na realidade um interessante projecto de dinamização cultural e pedagógico em conexão com a escola de hoje. Uma romaria de saudade de avós, pais, filhos e netos. E para Paredes de Coura um indiscutível investimento de sobeja categoria.
NOTA: este artigo foi escrito em Dezembro de 2004.
Antiga escola primária de Padornelo, em Dezembro de 2005.