PADRE CASIMIRO: A BOTA COM A PERDIGOTA
Terminou neste preciso momento o programa Republicanos, Graças a Deus!, dedicado à Questão Religiosa e a algumas figuras da 1.ª República, que ouvi e segui com toda a atenção, na esperança duma grande nomeada em sons de acurada importância.
Embora prefira falar da farinha em vez do farelo, assim de chofre, não posso deixar passar em claro algumas imprecisões, a pender como frutos colhidos à mão em árvore de ciência apressada, algumas delas de repelar o cocuruto a qualquer cidadão eleitor, mesmo que seja de segunda classe!
A começar, obviamente, pela pronúncia dada ao nome da nossa santa terrinha. No dizer daqueles sábios e entendidos em matéria de toponímia, seria Padornélo e não Padornelo, assim mesmo! Fiquei, logo, com pele de galinha, mas bota para a frente, suspenso na esperança de sorver o resto.
Mas o meu espírito não teve descanso ao ouvir que a Feira dos Tojais tinha acabado há vinte anos, quando, na realidade, como aliás é consabido, está extinta desde o início da década de 1960!
Meia légua volvida na narrativa, nova escorregadela, quando se dá a entender que Miguel Dantas – um estranhíssimo conselheiro Dantas – assistiu de braço dado com o abade Casimiro Rodrigues de Sá à proclamação da república em terras de Coura. Certamente que o Conselheiro Miguel Dantas, figura maior da História de Paredes de Coura, deu reviravoltas no túmulo, pois foi monárquico de gema durante toda a vida.
Por altura da queda da Dinastia de Bragança, em 1910, já Miguel Dantas, deputado da Nação, Par do Reino, Conselheiro de Sua Majestade em tempos da Monarquia Constitucional, único regime que conheceu, tinha entregue a alma ao Criador, na medida em que falecera a 8 de Julho de 1905, e não viu, felizmente para ele a implantação da Balbúrdia Sanguinolenta, para poder chorar por largos tempos!
Sobre o padre Casimiro e a sua importante participação na vida republicana e societária de então, tudo foi aflorado pela rama, como cão em vinha vindimada. Parecia até que o abade de Padornelo, saltando em terra em viagem de turismo a França, trouxe de lá dois capacetes, vejam só, pelo prisma da imaginação.
Sobre o resto, nada, pouco mais que nada, nem vaporosas intenções, ele que foi herói de muitas batalhas, grão fértil de inúmeros ofícios e das mais sólidas virtudes! Não foi por aí que se conseguiu exumar o pó à sua personagem histórica. E a parte positiva, dirão? Foi apenas mais uma jornada em prole da nossa terra, a colocar-nos no mapa.
Já agora, em nome do rigor histórico e da precisão na História, convém falar claro. O dr. António Oliveira Salazar desistiu da sua candidatura a deputado a favor do padre dr. Clemente Ramos nas eleições de Julho de 1915, outra grande figura da história courense, inteligência viva e brilhante como orador sagrado, professor de Teologia e musicólogo. Valha a verdade.
O resto do programa, já não dizia respeito à nossa terra, mas também divergiu e muito da premissa original, que a ciência do probabilismo não descortina o critério, embora saiba que o tema era mais denso que os montes Hermínios.
Foi dificílimo entender o fio condutor e ver o que a Congregação Dominicana de Benfica, a Igreja de Campolide e o Convento dos Cardais tinham com o tema da república e dos republicanos, a não ser de través. Mais parecia tratar-se da Igreja na República, virando o santo contra a esmola, num chorrilho de lamúrias e missa, em que até o tecto ameaçava ruína por via da instauração do regime republicano cem anos antes! Para um forçado dos livros, não bateu a bota com a perdigota!