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PADORNELO

Blogue acerca da terra, das pessoas, dos costumes e da História de PADORNELO, freguesia do concelho de Paredes de Coura, distrito de Viana do Castelo, publicado por JOFRE DE LIMA MONTEIRO ALVES.

Blogue acerca da terra, das pessoas, dos costumes e da História de PADORNELO, freguesia do concelho de Paredes de Coura, distrito de Viana do Castelo, publicado por JOFRE DE LIMA MONTEIRO ALVES.

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31
Dez11

PADORNELO NA FESTA DE NATAL DOS BOMBEIROS 3

    Imagem do Concurso para Bombeiros organizado pela Associação Cultural Recreativa e Desportiva de Padornelo durante a Festa de Natal dos Bombeiros, apresentado pela dr.ª Carla Lima e cujo júri, formado pelos elementos da colectividade padornelense, tinha a Luísa Sá como porta-voz. O certame contou com a empenhadíssima participação de cinco equipas dos soldados da paz (corpo activo e infantes da corporação de Paredes de Coura), com prestação de diversas provas, abrangendo as artes decorativas, dança, cantiga, perguntas, brincadeiras e outras. Fotografia de Eduardo Daniel Cerqueira.

29
Dez11

PADORNELO NA FESTA DE NATAL DOS BOMBEIROS 1

A sempre melodiosa actuação do Grupo de Cantigas de Padornelo, afecto à dinâmica Associação Cultural Recreativa e Desportiva de Padornelo, na simpática Festa de Natal dos Bombeiros, levada a cabo pela nobre Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Paredes de Coura, no passado domingo, dia 18 de Dezembro de 2011. Fotografia de Eduardo Daniel Cerqueira.

23
Dez11

NOTAS SOBRE O NATAL MINHOTO

Por: Jofre de Lima Monteiro Alves

 

    Ao longo dos anos fui coligindo alguns apontamentos sobre diversos usos e costumes minhotos, entre os quais avultam umas notas sobre a quadra natalícia, colhidas de levante a poente a ouvir as gentes idosas das nossas aldeias, mas também com recurso a consulta bibliográfica, hoje passadas a pena.

                                                                         

    Em Paredes de Coura, mal entrava a aragem do Natal, os lavradores usavam os doze dias antecedentes para fazerem conjunturas sobre o estado do tempo no ano seguinte. Assim, o dia 13 de Dezembro representaria a meteorologia do mês de Janeiro, o dia 14 afigura Fevereiro, sendo o mês de Dezembro vindouro representado pelo próprio dia 24, o da consoada.

                                                                                     

    Na madrugada do dia 16 de Dezembro começava a Novena de Natal, como processo de purificação e preparação, com missas, ladainhas e cantos litúrgicos, rezando-se nove padre-nossos, nove ave-marias e nove glórias. Esta antiga prática religiosa originou a enfática expressão «semana dos nove dias».

                                                                            

    Por sua vez, José Leite de Vasconcelos (Etnografia Portuguesa, vol. VIII, 1982, p. 508) faz referência à Rezada do Alho, antiquíssimo costume da freguesia minhota de S. João de Rei, Póvoa de Lanhoso, rezada no adro da igreja, onde se distribuía uma malga de vinho, uma fatia de broa e alhos pelos presentes, por entre padres-nossos e ave-marias.

                                                                                       

    O presépio era, então, um costume muito radicado, ocupando lugar cimeiro no imaginário popular, no entusiasmo da criançada e na casa do lavrador, com montanhas verdejantes, plantas vicejantes, casinhas maviosas, cascatas cristalinas, esplêndidas fontes, gentis mulheres, laboriosos camponeses, diligentes trabalhadores, pastores, grutas acolhedoras, o cândido menino nas palhinhas bafejado pelo burro e a vaca, a Virgem Maria e o venerável S. José, por entre vultos bíblicos e antigos romanos, tais e tais. Tudo num ambiente bucólico e pueril, mistura tanto do divino como do profano, espectáculo de tamanha excelsitude.

                                                                             

    Na antevéspera, a 23 de Dezembro, a tradição alto-minhota exigia de lei a visita ao cemitério, romagem de saudade aos entes queridos falecidos, na crença que os nossos maiores, os antepassados, iriam estar em espírito na Consoada.

                                                                                                                            

    Para aquecer a noite gélida, um madeiro de carvalho era colocado na lareira. Diziam as santas avós, em sabedoria milenária, que o fumo e as cinzas do Canhoto de Natal tinham a miraculosa função de repelir as faíscas e trovoadas, uma espécie de pára-raios campestre, além de eficazes propriedades medicinais em certas doenças, devendo para tal arder da Consoada ao Dia do Ano Novo.

                                                                                     

    Noutras terras, como Padornelo (Paredes de Coura), guardava-se religiosamente uma acha do cepo queimado para ser lançado à lareira e queimado de novo em dia de grande trovoada ou temporal medonho, dadas as suas sobrenaturais virtudes contra as tempestades. Até onde chegar o fumo do “Canhoto de Natal” não tombaria raio nenhum no ano seguinte (Famalicão, Paredes de Coura).

                                                                             

    Em Vila Nova de Famalicão também a borralha da lareira da Consoada era usada para fins curativos na medicina popular. Os cascos das pinhas queimados na noite de Natal para extracção dos pinhões tinham, igualmente, propriedades de protecção contra os trovões, sendo guardados e novamente colocados ao lume em dias de borrasca (Famalicão, Barcelos)

                                                                                                 

    Nalgumas localidades do Baixo Minho mais raiano com Trás-os-Montes (Terra de Bouro, Vieira do Minho, Cabeceiras de Basto e Celorico de Basto), a rapaziada surripiava um cepo de carvalho ou azinheira para ser queimado no adro da igreja durante a noite de 24 para 25 de Dezembro, sem reprovação pública do proprietário a quem retiravam o tronco, que assim “fornecia” o madeiro para a fogueira. O “Canhoto de Natal” era transportado inteiro num carro de bois, em ambiente festivo e de grande algazarra, folia rude dos povos.

                                                                                                          

    Em Padornelo, freguesia do concelho de Paredes de Coura, ainda na década de 1960 fazia-se um delicioso arroz de polvo seco para a Ceia da Consoada, que sei ter sido usual e tradicional em Pias, a compor escolta ao obrigatório bacalhau. Aqui, nesta localidade de Monção, a parte da doçaria era composta por bolos de chila e tostas, designação que davam às rabanadas.

                                                                                

    Em Viana do Castelo, para fazer companha ao bacalhau e ao polvo estufado com torradas finas, guarnecia a mesa um terceiro prato de bolinhos de bacalhau com esparregado de nabiças, resguardado por arroz-doce, rabanadas antigas, bolinhos de jerimu ou abóbora-menina, mexidos de mel, terminando ao ceiote – ceia depois da meia-noite – com a sopa dourada de Natal. Tudo um manjar dos deuses.

                                                                                                             

    Embora o arroz-doce fosse elemento essencial da doçaria da Páscoa em muitas casas era, ainda, vulgar formar a modesta bateria de doces que vinha adoçar a mesa de Natal, iguaria de fazer rir os olhos, no resto do ano só havia cibo de broa.

                                                                       

    Os formigos são, por excelência, o doce natalício da região de Ribeira Lima, feitos com pão de trigo duro, que se esfarela para dentro dum pote ao lume, com água e mel, mexendo-se sempre. Quando a massa borbulhar, mostrar boa catadura e ficar mais consistente, juntava-se-lhe uvas passas, nozes e figos aos pedacinhos, fervendo depois mais uns minutos. Deve servir-se frio, sendo feito dois ou três dias antes da consoada e em grande quantidade, não era tempo de ser somítico de unhas rentes.

                                                                           

    Uns dos acepipes mais usados na mesa alto-minhota eram as bêbedas, fatias de pão trigo cortadas com um dedo de espessura, levemente torradas e mergulhadas numa calda de vinho, canela e açúcar ou mel. Noutras localidades, como em Padornelo (Paredes de Coura), ou em Riba de Mouro (Monção), as fatias ficavam a embeber, mergulhadas na dita calda de vinho, açúcar e canela, atoladas em gozo gastronómico.

                                                                              

    Os pinhões eram presença constante em qualquer mesa, festim ao lado do arroz-doce, as rabanadas minhotas – umas bêbedas em calda de vinho, mel e canela, outras fidalgas –, as fatias-de-paridas polvilhadas de açúcar, os figos, as uvas passas, as nozes e toda a casta de vitualhas. As pinhas estão lembradas nesta quadra maviosa de Viana do Castelo:

 

Nossa Senhora da Serra

Lá anda no pinheiral,

Apanhando pinha mansa

Para a noite de Natal.

                                                                                                

    Ao fim do serão, à volta do lume comia-se a sopa de vinho quente, adocicada com mel ou açúcar, dentro dum grande malga, entulhada com broa ou pão trigo a fazer a parte sólida. Era a única altura em que se comia sopa, pois o resto do ano somente o caldo vinha à mesa do lavrador.

                                                                                           

    Em São Lourenço da Montaria, freguesia do concelho de Viana do Castelo, a tradicional consoada com bacalhau, nabos e couves emparelhava ainda com a consoladora sopa de vinho quente com açúcar. Tudo de estalo e truz.

                                                                                          

    Por sua vez, em Monção, umas horas depois da ceia, a família comia a sopa de trigo, preparada num grande alguidar, com recurso a vinho verde tinto, açúcar e pão de trigo aos pedaços, de fazer estoirar o cós das calças.

 

Os filhos dos reis

Em berço doirado,

Só bós, meu menino

Em palhas deitado.

                                                                                    

    Em qualquer localidade do Alto Minho a mesa, com os seus restos alimentares, ficava posta na noite de 24 para 25 de Dezembro. Não podia ser levantada sob pretexto nenhum, para saciar as alminhas e os anjinhos, que vinham comer de noite, enquanto a famelga dormia. No Baixo Minho até se punha um talher suplementar para honrar a memória dos familiares já mortos, e, também, não se levantava a mesa da consoada a fim de servir o repasto às almas.

 

Natal ao domingo

Venderás os bois

E comprarás, trigo;

Natal à segunda-feira

Enche a eira.

                                                                              

    Em suma, a Consoada de Natal do distrito vianense, pese embora as variáveis, era composta por bacalhau cozido com batatas, ovos, cenouras e couve penca curtida pela geada, seguido de polvo estufado ou arroz de polvo meia-cura, rabanadas minhotas, rabanadas antigas, rabanadas fidalgas, formigos ou mexidos do Natal e pão-de-ló, numa mesa adornada por nozes, figos, passas, pinhões e avelãs, tudo bem regado com um odre do bom vinho. Após a “missa do galo”, o estômago era acalmado com a sopa de vinho quente, adoçada com mel ou açúcar e reforçada, nas casas mais abastadas, com um calistro de vinho fino (Porto, Madeira ou Moscatel).

 

Ó meu Menino Jesus

Que é da bossa cabeleira?

– Ficou-me lá no conbento

No colo de uma freira.

                                                                

    Enquanto o canhoto ardia na lareira, as mães e as mãezinhas – tratamento carinhoso para as avós – cantarolavam as seguintes quadras, com o mesmo fervor dos salmos do Rei David cantados no coro da Sé:

 

Donde vêm os Reis Magos?

Da parte do Oriente

A adorar o Deus menino

Que é Jesus omnipotente.

 

Foram a casa de Herodes

Por ser o melhor reinado,

Para saber o caminho

Onde Jesus era nado.

 

Herodes como malvado

Como profeta malino,

Às avessas ensinou

Aos Santos Reis o caminho.

 

A estrelinha os guiou

Para cima duma cabana,

O menino encontrou

Deitado numa choupana.

 

A cabana era pequena

Não cabiam todos três,

Mesmo assim adoraram

Cada um por sua vez.

 

Todos eles ofereceram

Oiro, mirra e incenso,

Ele nada precisava

Porque era já imenso.

                                                                            

    No entrementes entoavam esta cantiguinha popular de Natal, com o rapazio a fazer coro, ou a atrapalhar, conforme o sono do adiantado da hora e o monco de palmo, colhida inicialmente em Ponte de Lima:

                                                              

Ó que noite de lura

Ó que noite de alegria!

Caminhando vai José

Caminhado vai Maria.

 

Ambos vão para Belém

Mais de noite que de dia,

Quando chegaram a Belém

Já toda a gente dormia.

 

– Abri-nos essas portinhas

Porteiros da agonia.

– Vinde, vinde senhora

Até ser claro o dia.

 

S. José foi pelo lume

S. José que fazeria?

Já a Virgem tinha parido

Era agora novo dia.

 

Desceu um anjo à terra

Paninhos de oiro trazia,

Tornando a subir ao céu

Cantou uma Ave-Maria.

 

Pai Eterno lhe perguntou

Onde estava Maria,

Maria estava bem

O menino sorria.

                                                                        

    Até os aforismos populares fazem alusão directa, ao garantir-nos que «no dia de Natal, já o dia tem mais um saltinho de pardal», mas asseguram que «de Todos-os-Santos ao Natal é Inverno natural».

                                                    

    A noite de Natal marcava de modo determinante a vida das pessoas, pois acreditava-se nessa ocasião que se o luar fosse intenso o linho medraria imenso e a colheita seria boa. Ao invés, a noite escura prenunciava uma produção aziaga.

                                                                                          

    Também o alho recebe a protecção explícita da quadra festiva, como garante a sabedoria popular que costuma meditar à vontade nestas coisas (Minho, Beira e Trás-os-Montes):

 

Quem quiser bom alhal

Semeia-o pelo Natal.

                                                                               

    Nas horas que antecediam a “Missa do Galo”, à volta da lareira onde o “Canhoto de Natal” tinha a santa função de abrasar toda a noite, brincava-se ao rapa-tira-deixa e põe, um jogo de pinhões, enquanto os crescidos jogavam às cartas ou lembravam os familiares e as narrativas de arrepelar os cabelos.

                                                                  

    Noite cerrada, os sinos convocavam os fiéis para a Missa do Galo, ala que se fazia tarde para beijar a imagem do Menino Deus e uma mó de gente inspirada pelo Altíssimo a entoar, a carnadura retraçada pelo cieiro:

                         

Alegrem-se os céus e a terra

Cantemos com alegria,

Já nasceu o Deus Menino

Filho da Virgem Maria.

                                                                                                       

    Em geral eram rezadas três missas de Natal, a missa do galo (meia-noite de 24 para 25 de Dezembro), a designada missa da galinha – logo na manhã de 25 de Dezembro – e a missa ordinária na tarde deste último dia. Quem assistisse às três liturgias recebia a graça infinita de amparo celestial e mais indulgências do Céu contra maleitas e maus-olhados.

                                                                             

    A Santa Noite de Natal escorria beatitude, angra divina a ter dó na humanidade. Era a única do ano em que se podia andar em completo sossego na medonha escuridão, mesmo sem recurso ao santo anjo da guarda, aliviado do pavor das aparições das abantesmas, almas penadas, lobisomens ou coisas-más, conforme crença neste extraordinário prodígio nocturno arreigada em Paredes de Coura e Ponte da Barca.

                                                                                                  

    Na madrugada de 25 de Dezembro, no rescaldo da festança, o Menino Jesus descia pela chaminé para deixar os presentes no sapatinho. A miudagem espertava com as galinhas, mal rompia a alva da manhãzinha, e sem conter o coração aos saltos investia a lareira à cata das modestíssimas prendas em tempos de vacas magríssimas, cotejadas com o despesismo actual, contudo inegavelmente mais preciosas.

                                                                                        

    Naquela altura o desconforme Pai Natal não existia no imaginário do Minho, nem embocava chaminés adentro, nem tínhamos com ele atenção de lei e mesuras. Os presentes eram trazidos pelo Menino Jesus no dia 25 e nunca na véspera.

                                                                                                         

    Ao almoço – ou jantar como então se dizia naquele torrão de sossego – do dia 25 de Dezembro comia-se a roupa velha, uma delícia feita com o sobejo da lauta consoada. Para amanhar a janta da Ceia de Natal, matava-se um soberbo galo da capoeira, preparado com arroz de pica no chão e chouriço de reco cevado a castanhas, um pitéu que suspirava no estômago.

                                                                                

   O Natal era a festa da família, por excelência, que assistíamos de olhos esbugalhados. Época harmoniosa, sinal de mesa farta idêntica ao milagre de Caná, de molde a reconquistar as almas e o Reino de Sião a Satanás, de deslumbrante placidez supraterrestre, como se chovesse sobre todos o maná da fartura, para retemperar forças do corpo moído de pancada na canseira da labuta diária. Mais do tempo a vida era dor e provação, carecida de todo o conforto.

 

20
Dez11

FALECEU A ROSA DO LAVRADOR

    No passado dia 3 de Dezembro de 2011, sábado, no Hospital Conde de Bertiandos – Unidade Local de Saúde do Alto Minho, em Ponte de Lima, faleceu a senhora Rosa Dantas Barreiro, a “Rosa do Lavrador”, de 86 anos de idade.

 

    Nascera a 13 de Junho de 1925 em Lamarigo, lugar da freguesia de Padornelo, filha de José Gomes Barreiro, “Zé do Lavrador”, e de Maria da Conceição Dantas, “Maria da Quinta”. Era viúva de José da Conceição Araújo, o “Zé do Rito”, e mãe extremosa de Manuel, António e de Maria Barreiro de Araújo. Era dilecta irmã de Abílio Dantas Barreiro e tio de Ilídio da Silva Dantas Gomes.

 

    Naqueles tempos difíceis, de grande carência e sofrimento, viu emigrar o marido para o Brasil, quando tinha ela tão-só 26 anos e três filhos de colo, com idades compreendidas entre os quatro anos e alguns meses, que criou sozinha como mulher de fibra, carisma e exemplo de trabalho e dedicação insofismável. Mais tarde, também os filhos seguiram o caminho da emigração e, com a sua morte, encerra portas mais uma casa e fica mais pobre a nossa amada freguesia.

 

    O seu corpo foi velado em câmara ardente na Igreja de Santa Marinha e sepultado no cemitério público de Padornelo a 4 de Dezembro, acompanhado da família e de muita gente.

20
Dez11

FALECEU A ESPERANÇA DA ROCHA

    No passado dia 1 de Dezembro de 2011, quinta-feira, no Hospital Conde de Bertiandos – Unidade Local de Saúde do Alto Minho, em Ponte de Lima, faleceu a senhora Esperança Felgueiras da Rocha, de 84 anos de idade.

 

    Nascera a 8 de Abril de 1927 na freguesia de Padornelo, era casada com Américo Pereira Alves, “Pezinho”, e mãe de Alfredo, Delfim, Virgínia, Olívia, Manuel e Jorge da Rocha Alves. Morava na vila de Paredes de Coura em companhia de um filho, e o seu corpo foi sepultado no cemitério municipal de Paredes de Coura no dia 2 de Dezembro de 2011.

20
Dez11

FALECEU O ZIRO DA PARACHÃO

    Em Lisboa, onde residia, a 28 de Novembro de 2011, segunda-feira, faleceu o nosso conterrâneo Isidro de Araújo e Sá, o Ziro da Parachão, de 71 anos de idade, vítima de doença incurável.

 

    Nascera a 14 de Outubro de 1937 no Sobreiro, lugar da freguesia de Padornelo, filho de António Manuel de Sá e de Zulmira da Conceição Lourenço de Araújo, a “Mira da Parachão”, ambos já falecidos.

 

    Emigrou para o Brasil na ida década de 1950, quando tinha tão-somente 20 anos e regressara ao torrão natalício da década de 1970, tendo, porém, estabelecido residência na área urbana da capital, onde foi reputado industrial de hotelaria, sócio gerente do Restaurante “O Búzio” e proprietário da Residencial “Belmonte”, na Avenida Duque de Loulé.

 

    O corpo foi velado em câmara ardente em Carcavelos e os seus restos mortais foram sepultados no cemitério público de Padornelo no dia 30 de Novembro de 2011, sendo acompanhado à última morada pela família, amigos e muita gente que lhe foi prestar a sentida homenagem. Deixa na maior dor a esposa Elsa de Sá, a filha dr.ª Octávia de Sá, e a afilhada Luísa Barbosa de Sá.

19
Dez11

GRUPO ETNOGRÁFICO DE PAREDES DE COURA

GRUPO ETNOGRÁFICO DE PAREDES DE COURA PRESERVA TRADIÇÕES DO ALTO MINHO

 

«A lavoura tem nesta região, um feitio característico e pouco usado noutras partes do país. O seu “modus faciendi”, torna o amanho menos fatigoso, chegando, ás vezes a ser festivo por ser “ de favor “.É a prática de mutualidade de serviços, onde vizinhos e outras pessoas prestam o seu serviço, esperando que essa pessoa também as ajude quando necessitarem.»

Narciso Alves da Cunha in ”No Alto Minho, Paredes de Coura”

 

    É dentro deste espírito de cooperação mútua que a Associação Cultural Recreativa e Desportiva de Paredes de Coura (ACRDPC) tem exercido as suas funções. Durante os seus 35 anos de vida, esta instituição de cariz cultural e social tem vindo também a praticar a mutualidade de serviços.

 

    Desde a sua fundação em 1976, a ACRDPC tem oferecido à comunidade courense e também à região alto-minhota um leque de actividades e serviços, onde apenas espera como recompensa o reconhecimento do seu trabalho, e a valorização da sua obra social, cultural e desportiva.

 

    Esta colectividade não quer separar-se do meio que a envolve, o Alto Minho Interior, sendo assim há uma contínua procura desde a sua fundação até aos dias de hoje, de tudo o que é típico desta região. Neste trabalho realizado por quase todos os seus membros, há uma recolha de tudo que estava a cair no esquecimento, como é o caso de canções, danças, lendas, jogos populares, orações antigas (que demonstram o fervor da crença das gentes do Minho), de processos antigos de agricultura e principalmente de trajes já caídos em desuso (principalmente do século XIX).

 

    Este trabalho de recolha de trajes antigos é executado em todas as freguesias courenses, refira-se que já foi possível recuperar (apesar dos acentuados custos) dois tipos de trajes antigos de grande valor, que foram os trajes dos Senhores da Casa do Outeiro (Agualonga) e ainda dos Viscondes de Mozelos.

 

    Devido a esta recuperação tanto a geração presente como a futura poderá ter acesso a tudo o que já foi usual, a tudo o que já fez movimentar a sociedade de antanho e é este também um dos grandes objectivos desta associação, ou seja, a ACRDPC pretende deixar um vasto e variado legado às gerações vindouras.

 

    Paredes de Coura, foi um concelho essencialmente agrícola, onde predominava a lavoura dos cereais, usufruindo assim do cognome de “Celeiro do Minho”, devido à sua actividade agrícola, e é à volta desta actividade que todo o nosso trabalho de recolha incide principalmente, mas não é caso isolado.

 

    Também a arqueologia tem lugar dentro das nossas actividades, e como o concelho é rico a nível arqueológico, a associação tem vindo a conseguir excelentes trabalhos de investigação e procura de materiais arqueológicos. Esta actividade teve mais vigor nos primeiros anos da ACRDPC.

 

    A nível social, a colectividade tem vindo a exercer uma acção deveras exemplar, com a prestação de variadíssimos serviços à comunidade courense. Esta instituição já teve a seu cargo o transporte quer de jovens (de suas casas para o infantário, escolas e diversos locais e vice-versa), quer de idosos.

 

    Para usufruto dos seus sócios, e de toda a comunidade, a ACRDPC possui uma biblioteca que contém colecções, alguns estudos e trabalhos que poderão ser solicitados para consulta. Esta biblioteca é composta por livros adquiridos pela instituição e por ofertas.

 

    Na sua sede social, funciona o núcleo de informática courense, secção pertencente á ACRDPC, onde principalmente os mais jovens, usufruem desse espaço e de todo o equipamento necessário.

 

    No patamar da animação cultural, o teatro tem um papel primordial. No passado houve formação e o ensino das artes teatrais a novos formandos. Assim sendo, foram encenadas grandes obras teatrais, como por exemplo: ”Frei Luís de Sousa” de Almeida Garrett. Desta forma há uma ocupação dos tempos livres, e leva-se, em especial os mais novos, a uma valorização da cultura.

 

    Também a dança rítmica, o bailado, é uma das actividades da associação, onde os membros mais jovens conseguem realizar grandes espectáculos de animação, satisfazendo grandemente o público que assiste a estes espectáculos.

 

    Mas os dois grandes embaixadores desta associação, logo da cultura courense e da alto-minhota, são o Grupo Coral e o Grupo Etnográfico.

 

    O Grupo Coral, data da fundação da associação em 1976 e desde então até 1986 (data da inactividade) abrilhantou diversos actos culturais e não só. Com efeito, o grupo coral contava com um extenso palmarés de actuações. O coral participou em diversos actos institucionais e oficiais, deixando a sua presença bem marcada em quem o ouvia. A sua acção também se prolongava ao campo religioso, onde efectuou algumas recolhas nessa área. Aquando de um trabalho de recolha e investigação nuns antigos baús pertencentes às Senhoras da Casa do Outeiro, foram encontradas umas valiosas partituras musicais, nas quais estava incluído o Hino de Paredes de Coura, que de imediato o Grupo Coral tratou de ensaiar e de apresentar ao público. Hoje em dia, por todos sobejamente conhecido, esse hino passou a ser mais um dos símbolos de Paredes de Coura.

 

 

Grupo Etnográfico – 28 anos

    Foi em 1983, por altura das festas concelhias locais, que o Grupo Etnográfico se deu a conhecer. Inspirado no extinto Grupo Folclórico Miguel Dantas, o Grupo Etnográfico procurou uma recolha fiel de danças, de canções e de trajes do concelho de Paredes de Coura, sendo esse trabalho contínuo. Tem participado em inúmeros festivais, dentre os quais refira-se o Festival Folclórico do Alto Minho. O Grupo Etnográfico foi responsável pela organização do segundo festival (1992), que se veio a lograr um verdadeiro êxito, e pelo do corrente ano (realizou-se em Junho último).

 

    Quando é chamado para actuações para festas e diversos actos de instituições públicas e de solidariedade social da região, nunca nega a sua comparência, e está sempre presente quando é necessário.

 

    Já participou em várias gravações: áudio e também vídeo, possuindo uma gravação em cassete áudio com todos os temas do seu repertório. O grupo é composto por dançarinos, tocadores, cantadeira, cantadores, coro e também figurantes.

 

    Como exemplos do seu repertório, mencione-se: chula de Paredes de Coura, malhão de Paredes de Coura, chula dos montes, e em especial uma dança muito apreciada por todos os que a vêem a ser executada: o fandango de Paredes de Coura, que é uma dança de bailado por excelência entre homem e mulher. A forma como a tocata realiza o número e a forma rítmica como os pares executam as danças, conferem-lhe um estatuto especial entre as danças deste grupo.

 

    O Etnográfico conta com diversas actuações na região, por todo o país e estrangeiro. Como se pode ver o grupo é um digno embaixador da cultura courense, da cultura minhota, e da cultura portuguesa.

 

    Em todas estas actividades desempenhadas, o principal objectivo é o reconhecimento do seu trabalho, e a alegre confraternização de todos os seus membros. 

 

“No final do trabalho, depois de ingerida frugal refeição organiza-se o bailarico, a dança, e saracoteia-se, animadamente, o vira, o fandango espanhol.”

Narciso Alves da Cunha in ”No alto Minho, Paredes de Coura".

 

Traje de Noivos - "Visconde de Mozelos"

 

Homem – Fato preto, camisa e meia branca, sapato preto de cordão e chapéu.

Senhora – Saia e casaca preta com barra de veludo bordada a lantejoulas e vidrilhos, com rendas nos punhos; avental de veludo com renda e bordado a missangas; lenço de cabeça de seda branco; chinelas pretas de couro; no braço um xaile preto de franja. Em dias de sol era usado com uma sombrinha branca.

 

Traje de luxo – Senhora da Casa do Outeiro

Homem – calça preta; camisa branca com gola de trincha, bordada nos punhos, e na frente a "espinha de peixe", em vermelho e azul escuros; casaca preta com duas fiadas de botões brancos; meia branca com sapato preto ou botins, em couro.

Senhora – saia preta, geralmente comprida, com barra de veludo bordada a vidrilhos; avental de veludo bordado e com rendas; blusa branca com gola redonda com os punhos rematadas a rendas; casaca preta bordada a missangas; chinelas pretas com meia branca rendada.

 

Traje domingueiro ou de ir à Feira de Paredes

Homem – calça preta, camisa branca de trincha bordada nos punhos e na frente; colete preto sendo as costas de fazenda quadrejada; sapato preto e meia branca;

Senhora – saia preta comprida com barra bordada; blusa branca; colete de tecido fantasia ornado a fita algodão de cor a condizer, justinho no corpo, apertando na frente com cordões de algodão; lenço de merino ou chinês; chinela preta com meia branca; podem usar pequenas cestas ou condessas.

 

Traje de Trabalho

Homem – calça de estopa ou de cotim, camisa de riscado; calçavam socos abertos de pau e couro, com ou sem meias de lã;

Senhora – saia de chita ou riscado, comprida; blusa também de chita; avental a condizer; socos de pau e nos trabalhos, em dias de sol, usavam os chapéus de palha.

 

Texto e fotos de Eduardo Cerqueira

 

Grupo Etnográfico de Paredes de Coura

 

acrdpc@gmail.com

 

 

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