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A história, muito conhecida em Padornelo, é fácil de contar. Ilídio Dantas é proprietário de uma bouça no lugar das Angústias, Padornelo. Em meados de Janeiro de 2012, chega-lhe aos ouvidos que os eucaliptos e pinheiros da sua bouça tinham sido cortados e que os muros tinham sido derrubados. Segundo os moradores das Angústias, obra de um madeireiro de Ponte da Barca que tinha efectuado o corte e derrubado os muros.
Ilídio Dantas, incrédulo, avança com uma queixa-crime contra a empresa de madeiras e contra desconhecidos, não fosse a culpa não ser efectivamente do madeireiro de Ponte da Barca.
O Ministério Público investiga o caso, ouvindo dezenas de testemunhas, e conclui que o madeireiro tinha sido enganado. O madeireiro, segundo o Ministério Público, tinha comprado madeira de várias bouças nas Angústias e o vendedor, um polícia reformado de Ponte de Lima, tinha-lhe que a madeira pertencente a Ilídio Dantas era dele e que também era para cortar, tendo inclusive dito ao madeireiro que, para facilitar o corte, podia deitar abaixo os muros.
O processo segue então para julgamento e a tese do Ministério Público vinga. O polícia é condenado por burla e dano e a pagar uma indemnização a Ilídio Dantas. Inconformado, o polícia recorre para o Tribunal de Guimarães que o absolve de tudo.
Não resignado com a absolvição do polícia, Ilídio Dantas avança novamente com uma acção judicial contra os madeireiros, pois se a culpa não era do vendedor tinha então que ser do comprador. Contra todas as expectativas de Ilídio Dantas, o Tribunal de Valença absolve, no entanto, o madeireiro.
Desanimado com a justiça, Ilídio Dantas, no entanto, não desiste e recorre para o Tribunal da Relação de Guimarães, tribunal esse que, julgando definitivamente a questão, decidiu revogar a decisão do Tribunal de Valença e conceder a justa indemnização a Ilídio Dantas.
Carlos Sousa Barbosa, advogado de Ilídio Dantas em todo este processo, refere que este caso é daqueles que um dia vai ter mesmo que contar aos netos. O causídico confessa que, no início, o caso aparentava ser simples e rápido de resolver, mas no final revelou-se um processo longo e difícil, sobretudo difícil de explicar, face às sucessivas decisões judiciais que se contradiziam umas às outras. Mostrou-se, no entanto, muito satisfeito com o desfecho do processo e com a decisão do Tribunal da Relação de Guimarães, acrescentando ainda que, caso os tribunais portugueses não emendassem a mão, iria processar o Estado Português no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, porque a situação já se estava a tornar ridícula.
Notícia do jornal NOTÍCIAS DE COURA, edição 327, de 24 de Outubro de 2017, p. 3.